O enterro de Judd Crawford está próximo, mas as investigações dos mascarados não parecem ser o suficiente, o que faz com que o FBI envolva-se no mistério do assassinato do capitão de polícia. Para o caso, o bureau delega a tarefa à Laurie Blake (Jean Smart), que sabe bem mais do que todos imaginam, mas ainda assim ela leva um assistente, o agente Petey (Dustin Ingram). É nesse ínterim que assistimos o senador Keene revelar suas verdadeiras intenções com os “heróis”, mostrando que continua o legado de seu pai, também temos Angela em sua própria missão e finalmente temos a confirmação de que o homem na mansão é Adrian Veidt, o que era bem óbvio, mas ainda não sabemos o quanto dessa série é distração ou não.
Algumas peças do quebra-cabeça começam a fazer sentido, enquanto outras ficam ainda mais complicadas de se encaixar, mas antes de chegar nas teorias e referências, vou falar um pouco sobre o episódio em si. Para começar, a direção agora é por conta de Stephen Williams, companheiro de longa data do showrunner Damon Lindelof, com quem trabalhou na série Lost. Williams constrói algumas cenas com uma tensão crescente que casa muito bem com o episódio, como as sequências do assalto ao banco ou basicamente qualquer momento em que algum personagem conversa com Laurie, um atestado do talento de Jean Smart para entregar uma personagem complexa, que pode intimidar, mas é carismática em sua atitude despretensiosa, também frágil quando precisa lidar com o passado. Um detalhe da personagem que chamou a atenção foi sua compulsão por corrigir a gramática das pessoas, o que rende alguns diálogos interessantes.
Por falar em Laurie Blake, para quem não tem muita afinidade com as HQs ou o filme, essa é Laurie Juspeczyk, que atuou como a heroína Espectral durante a era Watchmen. Ela é filha de Sally Jupiter, que também foi uma vigilante, e de quem tirou o nome de seu alter ego. Pelo que vemos na série, Laurie não está mais em um relacionamento com Dan Dreiberg, o Coruja, e decidiu assumir o sobrenome de seu pai, Edward Blake, o Comediante (cujo assassinato acaba sendo o ponto de partida para a HQ). Então, já que estamos mencionando as ligações com o material original, vamos para as teorias e referências.
Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)
A primeira cena mostra Laurie em uma cabine telefônica peculiar, azul e com o símbolo de Manhattan. Essa cabine serve para fazer ligações diretas entre a Terra e Marte. Laurie tenta entrar em contato com Manhattan, o que não parece estar dando certo, mas por ser uma ex-amante dele, talvez tenhamos uma conversa em breve. Mas o mais estranho não está nessa possível interação, e sim na logo que surge antes da ligação ser feita.
Trieu é o nome que surge na tela antes da ligação de Laurie. Aparentemente, uma empresa chamada Trieu criou essa cabine, mas com que intenção? Uma das pistas está no diálogo entre Laurie e o agente Petey quando sobrevoam Tulsa, na qual ele menciona como as Indústrias Veidt foram compradas por uma magnata chamada Lady Trieu, em 2012, assim que Adrian desapareceu e foi dado como morto.
Lady Trieu ainda não apareceu na série, mas está presente através de menções e pela menina que compra as revistas do jornaleiro no segundo episódio. Essa figura misteriosa não deve ser apenas uma personagem rica, mas sim uma das peças mais importantes para entender os planos de Adrian. Além disso e de criar a cabine, o que é bastante estranho em um mundo onde todos adquiriram um tipo de tecnofobia por conta dos eventos da HQ, Trieu é responsável por construir o monumento Relógio do Milênio, que também pode ser visto durante o voo de Laurie e Petey.
As coincidências e ligações com Adrian não param aí, porque a parte verdadeiramente assustadora é que, de acordo com Petey (e eu demorei para notar que esse era o Petey que reúne as informações do site de bastidores da HBO), antes de inaugurar o monumento, Lady Trieu mencionou diretamente Ozymandias – não o herói, mas o poema que inspirou o seu nome, escrito por Percy Shelley, sobre um homem antes poderoso que teve seu legado esquecido pelo tempo, tendo apenas uma estátua abandonada no deserto como lembrança.
Será que Trieu trabalha para Adrian, ou com ele… ou contra ele? Ainda é cedo demais para saber.
O trecho do poema mencionado: “Contemplem minhas obras, ó poderosos, e desesperem-se”
Continuando com Laurie, o episódio mostra a personagem em trabalho, atuando como uma agente do FBI tentando capturar vigilantes agindo fora da lei – parece que a atividade voltou a ser crime, pelo menos nas grandes cidades. Chegando em casa, Laurie tenta ouvir sua música em paz, um pouco de Devo nunca é demais (eles dão o nome do episódio com a música Space Junk), alimenta sua coruja de estimação (novamente, referências ao Coruja) e abre uma maleta com um conteúdo que só é revelado no fim do episódio (brinquedos sexuais inspirados em Manhattan). Sua rotina é interrompida pela visita do senador Keene, que a parabeniza pelo excelente trabalho.
Ele diz que o assassinato de Crawford não pode ter sido ato da Kavalaria, já que eles têm o costume de se vangloriar por cada policial que matam. Isso deixa Laurie ainda mais intrigada. Ao fundo, uma pintura no estilo Andy Warhol representando o Coruja, Adrian e Manhattan chama a atenção, enquanto Laurie cobre seu próprio rosto com a cabeça. Isso pode ser uma das várias alusões à piada da personagem na abertura do episódio, onde fala sobre três homens tentando entrar no céu, mas são mandados para o inferno. O que Deus não esperava era a presença de uma garota que passou despercebida.
No bureau, uma reunião sobre os eventos recentes em Tulsa é o que motiva Laurie. Durante a apresentação, um dos slides mostra uma página do diário de Rorschach, exatamente na parte em que ele relata sua visita ao Veidt. O responsável pela apresentação questiona o agente Petey, que incluiu essa página para “contexto”, mas aparentemente “ninguém liga para o Rorschach”. Durante a apresentação também podemos ver que o FBI já sabe a identidade secreta de todos os policiais mascarados.
Temos o retorno de Pirate Jenny, Red Scare e Looking Glass, que dessa vez é o interrogado por uma Laurie sem rodeios sobre a instalação secreta que comandam, onde todos os “potenciais supremacistas” são fichados para futura referência.É engraçado ver a agente pegando o controle de Looking Glass e fazendo piadas sobre seu “detector de racistas”. Esse tipo de humor é uma das coisas que Alan Moore faz muito bem nas HQs e ficou faltando na adaptação cinematográfica, então isso é mais um ponto positivo para a série. Além disso, é revelado o verdadeiro nome do personagem de capuz reluzente: Wade Tillman.
Se até esse ponto já não estava óbvio, Laurie é a protagonista do episódio. Então continuamos seguindo o seu cotidiano, até mesmo sua estadia em um hotel chamado Black Freighter, mais uma das várias referências que o Cargueiro Negro vem recebendo na série. Essa nem é a única vez em que a HQ dentro da HQ é aludida no episódio, porque uma bandeira de caveira pirata recebe bastante atenção da câmera quando observamos Adrian em sua “caçada”. Seriam esses exemplos apenas menções ao quadrinho ou uma ligação maior?
Depois, vamos ao enterro de Judd Crawford, e mesmo com um membro da Sétima Kavalaria invadindo o evento com uma bomba conectada ao coração, o que me deixou curioso mesmo foi a música cantada por Angela durante seu tributo. The Last Round-Up, do filme The Singing Hill, de 1941, é a canção cantado pelo cowboy Gene Autry, durante o enterro de um dos moradores de uma pequena cidade invadida por um magnata. A premissa do filme pode não parecer relevante até agora, talvez o filme e a música sejam mencionados apenas por conta do enterro, mas como ainda não se sabe muito sobre o passado de Crawford e as últimas informações não parecem convencer Angela, é mais um dos casos onde é cedo demais para dizer.
Agora vamos para Ozymandias, onde sempre encontramos as sequências mais bizarras da série até o momento. A câmera atravessa a sala da mansão de Adrian, revelando bustos do imperador Alexandre, discos em vinil de Lee Perry, maquetes, uma pequena catapulta, pesquisas sobre lulas (novamente?) e muitas, MUITAS plantas e mapas. A loucura do momento é uma vestimenta que, pelo que tudo indica, não teve o resultado esperado pelo homem mais inteligente do mundo, o que resulta em mais uma casualidade entre seus clones e muita frustração.
Mas Adrian não desiste e segue com seus planos, partindo para a caça, literalmente, atirando em um búfalo-americano, provavelmente para usar sua carcaça como base para mais uma vestimenta. O CGI dessa cena é pouco impressionante, considerando o que a HBO já conseguiu fazer com efeitos especiais em séries como Westworld, mas tudo bem. O que realmente chama a atenção é a revelação de mais uma figura misteriosa, em um cavalo, que atira aos pés de Adrian e o proíbe de capturar sua presa.
Voltando para sua mansão, mais uma vez impaciente, Adrian tenta meditar, mas é interrompido por sua assistente, Crookshanks, que carrega uma carta selada com um carimbo de caveira (Cargueiro Negro, mais uma vez), provavelmente da figura misteriosa. A carta fala que Adrian precisa respeitar as “condições de seu cativeiro”, e que suas ações podem acarretar em “sérias consequências”. Ainda que tenha um teor ameaçador, o remetente agradece Veidt pelos tomates (vistos no episódio anterior, crescendo em uma árvore, o que indica alterações genéticas) e se intitula como um “humilde servo, o Guarda-Florestal”. Adrian pede para Crookshanks voltar à máquina de escrever e redigir uma resposta, na qual deixa claro que suas ações são de natureza recreacional. No fim, ele assina a carta com seu nome, confirmando que esse tem sido Veidt o tempo inteiro, então ele dispensa sua assistente e comemora se vestindo como Ozymandias, usando seu uniforme original.
Toda essa sequência entrega bastante informação, o que é curioso. Ver Ozymandias uniformizado enquanto um relâmpago ilumina seu rosto pode parecer brega com a intenção de distrair o público. O jeito é esperar.
Logo depois, temos uma conversa séria entre Angela e Laurie, mais uma vez levantando o questionamento sobre o passado de Crawford. Laurie volta para o motel Cargueiro Negro, encara o conteúdo de sua mala, dorme com seu assistente e voltamos para a cabine telefônica. Ao sair de lá, ela encara o céu e espera uma resposta de Manhattan, o que recebe de certa maneira através de um carro caindo das alturas. Dessa vez, Will, o centenário na cadeira de rodas, não está dentro dele.
E a trama fica ainda mais bizarra, o que eu adoro! O que tem achado da série até agora? Quais as suas teorias? Não esqueçam de visitar o PeteyPedia porque já foram liberados materiais novos e comprometedores para os personagens, incluindo evidências sobre o assassinato de Crawford.