Riqueza Tóxica | Uma aula de como aproveitar o baixo orçamento

Riqueza Tóxica | Uma aula de como aproveitar o baixo orçamento

27 de maio de 2019

4minutos de leitura

Ainda que grandes estúdios tenham um orçamento gigantesco para a execução de seus filmes, o resultado final nem sempre compensa o investimento. Isso apenas evidencia o excelente trabalho de algumas equipes responsáveis por produções independentes, onde você deve fazer valer cada centavo. 

Se você tem o costume de assistir curta-metragens de ficção científica, provavelmente já ouviu falar da DUST, o selo sci-fi da empresa Gunpowder & Sky, responsável por distribuir conteúdo original do gênero. Com um catálogo atraente (disponível também no canal do Youtube da marca), muitos artistas ficaram rapidamente interessados em contribuir com seus próprios filmes.

Quando o longa Prospect, distribuído pela DUST, foi anunciado para plataformas digitais, a opção para os fãs brasileiros foi esperar o posicionamento de algum serviço de streaming. A resposta veio da Netflix, trazendo o filme para o país com o título Riqueza Tóxica. Não é a melhor das traduções, e é claro que ainda sobra o problema da Netflix em deixar obras como esta no catálogo com pouca visibilidade (o mesmo aconteceu em Terra À Deriva, um dos maiores sucessos de bilheteria da Ásia, que não recebeu toda a atenção merecida por aqui), mas vamos ficar felizes por pelo menos ter fácil acesso ao filme. 

Riqueza Tóxica

O filme é baseado no curta homônimo da dupla Christopher Caldwell e Zeek Earl, que também assinam a direção e o roteiro do longa. Uma jovem e seu pai visitam uma lua alienígena na busca de pequenas jóias valiosas que só podem ser encontradas adentrando uma floresta tóxica. Mas eles não são os únicos tentando ficar ricos dessa maneira.

No meio de tanta coisa grande saindo nos cinemas, rendendo bilhões nas bilheterias, seja mais um filme da franquia Marvel ou Star Wars (basicamente, tudo Disney), é fascinante ver como uma obra menor, em escala e orçamento, consegue ser tão poderosa. Começando pela sua construção visual, que atingiu uma estética realista e distópica sem precisar do uso de tela verde. A maior parte das filmagens foi realizada em uma floresta conhecida da infância dos diretores, e um galpão precisou ser construído para que a equipe pudesse trabalhar perto do local.

É esse tipo de esforço que me faz apreciar ainda mais filmes assim, onde é visível a importância de ter sido gravado longe de um estúdio, com luz natural, contribuindo para a imersão daquele mundo. Tudo aqui é original: trajes espaciais, armas, ilustrações e até mesmo a poeira. Para que o filme tivesse sua própria identidade visual, os diretores passaram dias explorando maneiras diferentes de representar a poeira rosada que cobre a superfície da lua verde.

Outro diferencial do longa está no elenco. Jay Duplass é Damon, um pai longe de ser perfeito, mas ainda assim preocupado com a segurança de sua filha. Pedro Pascal é o nome mais conhecido do público, principalmente depois de ter interpretado Oberyn na série Game of Thrones, papel que chamou a atenção de Caldwell e Earl e colocou Pascal como a pessoa perfeita para o personagem Ezra, um obstáculo no caminho de Damon. Mas é Sophie Thatcher quem carrega o peso de protagonizar o filme como Cee, a jovem que se encontra em um território perigoso demais, principalmente para alguém sem muita experiência. Também foi satisfatório ver a dinâmica pai e filha em um filme do gênero, onde geralmente temos um um filho aprendendo com o pai. É arriscado, mas apoio que sempre vale a pena termos mais representação e novos pontos de vista.

Riqueza Tóxica

Riqueza Tóxica tem uma direção íntima e cheia de belas tomadas de um horizonte vibrante, longe de toda a sujeira daquela lua. Esse é um filme que merece muito mais atenção por conta de todos os detalhes da produção e o incrível resultado final. Sequer cheguei a mencionar o roteiro, sem grandes tramas mirabolantes e planos malignos envolvendo destruição mundial (ou galáctica, dependendo de qual franquia estiver na sua mente agora), apenas o drama pessoal de uma jovem em um mundo perdido. Tudo é revelado através de diálogos naturais, onde podemos saber um pouco mais sobre a economia e cultura daquele lugar, além das pessoas que o habitam, como outros garimpeiros e saqueadores. É um universo rico em detalhes, mas o filme é inteligente o suficiente para confiar em seu público e não repetir as informações constantemente.

O ritmo é lento, mas a duração do filme é tão modesta que isso nem é sentido. É uma experiência rápida, mas cheia de beleza em sua execução. Um filme que não merece ficar escondido no catálogo da Netflix e precisa ser valorizado, ainda mais em tempos de blockbusters tomando conta de todas as salas de cinema. 

Próximo post:Oryx e Crake | Adestrando o Fim dos TemposPost anterior:O Escultor | Scott McCloud põe suas aulas em prática

Posts Relacionados

Comentários