Se Little Fear of Lightning impressionou o público com uma abordagem mais íntima do cotidiano de Looking Glass, This Extraordinary Being volta ao passado para mostrar as origens do avô de Angela, Will Reeves. Dirigido por Stephen Williams, o mesmo de She Was Killed by Space Junk, o episódio dessa semana prova que Watchmen tem mais ambição do que ser apenas uma continuação da obra original de Alan Moore, criando uma narrativa que se aproveita dos temas do quadrinho mas cria algo completamente novo, ainda mais político do que antes (e não se engane, se acha que quadrinhos e política não se misturam, preciso dizer que você nunca leu um quadrinho).
Com uma montagem e direção impressionantes, esse episódio alterna entre o colorido e o preto e branco com a intenção de criar um ritmo mais dinâmico, inserindo elementos que não fazem parte do período em cena. É engraçado ver como nos primeiros minutos temos mais um momento inspirado em Zack Snyder para exibir um trecho da série American Hero Story, e como ao longo do episódio são usadas técnicas comuns do diretor, como a câmera lenta e agitada durante as sequências de ação, mas com o diferencial de que aqui Stephen Williams utiliza a técnica com propósito narrativo, congelando a cena para criar uma interação dramática entre Angela e seu marido, mas ao mesmo tempo, Angela e Will. O uso de plano sequência e transições através de portas e janelas são algumas das decisões que fizeram esse episódio tão bom.
This Extraordinary Being deixa de lado todas as tramas paralelas e se dedica a jornada de Will, um policial negro atuando em um EUA tomado pela tensão racial. A série tem abordado o tema de legado constantemente, e aqui podemos ver como as ações de uma pessoa podem influenciar e começar uma reação em cadeia difícil de ignorar, e é por isso que a série tem dado tanto destaque para a maquiagem no rosto de Angela, um paralelo com o que seu avô fez décadas atrás. São pequenos detalhes como esse que deixam Watchmen mais envolvente. Mas vamos falar mais disso nas teorias e referências.
Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)
A primeira referência que merece ser mencionada é a própria logo da série, que através da fumaça de um cigarro vai de Watchmen para Minutemen, o primeiro grupo de heróis formados nos quadrinhos. Depois disso, temos Justiça Encapuzada sendo interrogado por dois agentes, abordando seu envolvimento com Nelson Gardner, o Capitão Metrópole. É claro que estamos assistindo um trecho da série American Hero Story, porque logo em seguida, Justiça Encapuzada dá um salto por cima da mesa e espanca os agentes.
Voltamos para Angela, que está em uma cela, alucinando por conta das pílulas de Nostalgia que tomou no episódio anterior. Ela entra em coma e começa a reviver o passado de seu avô, Will. Primeiro, temos um jovem Will, interpretado por Jovan Adepo, recebendo seu distintivo da polícia, junto de um alerta misterioso para tomar cuidado com os “Ciclopes”. Mais tarde, Will janta com June (Danielle Deadwyler), e conversam sobre seus traumas passados, e como ele ainda não abandonou sua raiva, o que pode influenciar negativamente seu trabalho na força. Mesmo negando, Will continua tendo pequenos choques de realidade, confundindo passado e presente.
Durante uma de suas patrulhas noturnas, Will passa em uma banca e vê as notícias de que os nazistas estão avançando para o oeste. Continuando sua caminhada, se depara com um homem (interpretado por Glenn Fleshler), visivelmente bêbado, ateando fogo em um estabelecimento comandado por uma família judaica. Will o confronta, descobre que o nome do homem é Fred, mas não parece nem um pouco preocupado em ser levado para a delegacia. E é lá que vê pela primeira vez um dos oficiais fazendo um sinal acima da testa, representando o olho do ciclope.
De volta às ruas, Will vê um homem lendo a primeira edição de Action Comics, o quadrinho que deu origem ao Superman. Esse é um detalhe curioso já que, assim que os heróis como Minutemen e Watchmen surgem naquele mundo, o interesse do público em ficção com super heróis cai, por isso uma das HQs mais vendidas é uma aventura envolvendo piratas. Isso é o contrário do que aconteceu em nossa realidade, já que o primórdio dos quadrinhos foi composto por piratas e criaturas, mas isso foi abandonado por homens em colã e cueca por cima da calça.
Mais tarde, Will é abordado pelo mesmo grupo de policiais que acabou liberando Fred. Eles espancam Will, além de cobrir seu rosto e tentar enforcá-lo, mas liberam ele com um aviso de que não deve mais se envolver com seus assuntos. Machucado, e cheio de raiva, Will caminha pela noite com uma corda em seu pescoço, até escutar um casal gritando por ajuda. O jovem policial cobre seu rosto e parte para cima dos criminosos, começando assim suas atividades como vigilante, confirmando que ele era esse tempo todo o Justiça Encapuzada.
Chegando em casa, Will e June conversam sobre o filme que o inspirou a se tornar um policial, Trust in the Law, o mesmo que assistiu durante os protestos em Tulsa quando criança, no primeiro episódio. Os dois conversam sobre a possibilidade de Will ser um vigilante, então decidem esconder sua identidade pintando o rosto para que não entregue sua cor.
Em sua primeira patrulha como Justiça Encapuzada, Will encontra um dos esconderijos dos ciclopes, além de um livro que estiveram usando sobre Mesmerismo, uma forma de hipnotismo, mas desenvolvida por Franz Mesmer e com aplicações reais para colocar as pessoas em um estado de transe. Na série, isso é usado pelo KKK contra a comunidade negra, e mais tarde, por Will.
E Capitão Metrópole faz sua primeira aparição. Em seus trajes civis, como Nelson Gardner, visita a casa de Will e tenta recrutá-lo para os Minutemen. Não demora para também vermos a relação mais íntima dos dois, conversando na cama sobre os futuros projetos do grupo de heróis. Ao voltar para casa, Will descobre que June está grávida e é confirmado que ela era o bebê do primeiro episódio.
No primeiro encontro de Justiça Encapuzada com os Minutemen, Will tem a triste surpresa de notar como o grupo está mais interessado em aparências e publicidade, ao invés de realmente combater o crime, e um cartaz do Dollar Bill capturando um homem negro em defesa do Banco Nacional não ajudou a situação. O mais estranho nessa sequência é como Capitão Metrópole parece mais confiante do que sua versão nos quadrinhos, porque mesmo sendo o líder do grupo, sempre teve mais interesse em salvar as pessoas, tanto que foi isso que o deprimiu durante os encontros com os Watchmen.
É nessa cena que Metrópole menciona pela segunda vez o nome do vilão Moloch, um dos arque-inimigos do Comediante. Na HQ, Rorschach visita Moloch, agora aposentado e respondendo por seu nome civil, Edgar Jacobi. Ele acaba sendo uma das vítimas do plano de Veidt.
Voltando ao seu trabalho de policial, Will entra em um cinema onde um grupo de negros foi atacado violentamente por seus próprios companheiros. Will acha isso estranho e investiga o caso, descobrindo que os ciclopes estão usando projetores de filme para induzir mensagens de violência contra a comunidade negra através do mesmerismo. Isso o deixa irado e faz com que decida fazer justiça com as próprias mãos, então vai ao armazém dos ciclopes, atira em cada um deles e queima o local.
Anos se passam e confirmamos mais uma teoria com Will usando sua lanterna (e a técnica do mesmerismo) para convencer Judd Crawford a se enforcar. As memórias e o pesadelo de Angela termina quando acorda ao lado de Lady Trieu, no que parece ser o Relógio do Milênio.
Esse foi um episódio mais contido, mas ainda assim revelou MUITA coisa que ainda estava em aberto na série. Vamos ver se semana que vem, com o julgamento de Veidt, descobrimos ainda mais.