O Homem do Castelo Alto | As diversas realidades de Philip K Dick
Continue LendoRoberto Honorato
Um clássico de Philip K Dick sobre realidades e distopias alternativas
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Embora autores clássicos como Machado de Assis tenham se aventurado no gênero, a ficção científica começou a dar seus primeiros passos para ser reconhecida como uma possibilidade para narrativas originais no Brasil graças ao trabalho de Jeronymo Monteiro. Envolvido em diversos projetos, o jornalista e escritor ficou conhecido por seu trabalho em séries de rádio, além de ser um nome importantíssimo para os quadrinhos, editando e traduzindo materiais da editora Abril, como a primeira revista do Pato Donald no país.
Mas sua maior contribuição foi para a literatura nacional, área na qual recebeu a alcunha de “pai da ficção científica no Brasil”, sendo responsável por consolidar o gênero no país através da revista Magazine de Ficção Científica, trazendo autores como Isaac Asimov e Ray Bradbury todo mês. Monteiro é tão influente que a data de seu nascimento, dia 11 de dezembro, é considerada o dia da ficção científica brasileira.
Entre suas obras literárias está Três Meses no Século 81, relançada pela editora Plutão em sua coleção Ziguezague, onde explora as diferentes “ondas” da ficção científica no país. Monteiro está claramente na primeira, sendo pioneiro em apresentar uma narrativa sobre viagem no tempo com elementos que seriam marca do gênero até hoje.
No livro, Campos relata sua experiência visitando a civilização do século 81. A sua viagem revela um mundo aparentemente utópico, com arquitetura e tecnologia impressionante, mas talvez as coisas sejam perfeitas demais para o viajante, que ao chegar no futuro se vê no corpo de um ser chamado Loi. A decisão do autor em transformar a viagem temporal em uma experiência esotérica, através do que chama de “transmigração”, ao invés de uma máquina, como estamos acostumados, é um caminho que acaba dando mais originalidade ao material.
“Em todo caso, aquelas construções, se eram impressionantes pela simplicidade e pela largueza, nada tinham de emocionantes”
A obra carrega uma construção de mundo surpreendente, estabelecendo a sociedade do futuro com sua nova geografia, hierarquias e economia (ou falta dela), fazendo questão de explicar o desenvolvimento de uma nova língua híbrida do inglês com outros idiomas (talvez uma pequena cutucada na maneira como a cultura norte americana tem se expandido em nosso cotidiano).
Monteiro também brinca um pouco com a metalinguagem, elemento pouco comum para a época, inserindo o escritor H.G.Wells, responsável pelo clássico A Máquina do Tempo, em sua história, não só como referência, mas como um personagem que existe no universo de Campos, ou de Loi.
Pode ser uma boa maneira de introduzir os principais elementos da trama, mas é engraçado como a narrativa acaba sofrendo um pouco com essa atenção aos detalhes, deixando por vezes visível como Monteiro acaba sendo prolixo ao ponto de introduzir personagens essenciais para a trama tarde demais, como Ilá, que acaba servindo como ativista e interesse romântico para o protagonista, mas por ser apresentada tão tarde, perde seu peso e suas “cenas” são um problema quando consideramos o quão bem estabelecido é o universo do livro.
Esse é um deslize fácil de relevar em uma obra precursora como essa, e importante para a ficção científica no Brasil. Jeronymo Monteiro é um nome necessário para qualquer leitor de ficção especulativa no país, e o relançamento de Três Meses no Século 81 é mais um enorme acerto da editora Plutão.
Roberto Honorato
Um clássico de Philip K Dick sobre realidades e distopias alternativas
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