SAGA – Vol. 1: Magia, Espadas e Recém-Nascidos

SAGA – Vol. 1: Magia, Espadas e Recém-Nascidos

9 de setembro de 2019

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Poucas HQs foram tão aclamadas pelo público e crítica quanto Saga. Com argumento de Brian K. Vaughan (Y: O Último Homem) e arte de Fiona Staples (Archie), a revista, publicada pela Image Comics, é uma das space opera mais criativas que você vai ler. Em um mundo onde humanoides com uma televisão no lugar da cabeça comandam um exército e felinos podem detectar se uma afirmação é verdadeira ou falsa, seguimos Alana e Marko, um casal fugindo das autoridades por terem concebido uma criança em período de guerra entre as suas duas raças. Alana vem de Aterro (Landfall, no original), o maior planeta da galáxia, mais militarizado e acostumado ao uso de tecnologia. Marko, por outro lado, vem de Grinalda (Wreath), a lua natural de Aterro, onde seus habitantes tem bastante conhecimento no uso de magia.

Uma das coisas mais curiosas da série, logo de cara, é a sua estrutura. A história é narrada pelo bebê do casal, Hazel, mas de um período não determinado no futuro. Ainda que ela sirva como um narrador onisciente (e presente), o leitor não se restringe ao núcleo dramático de sua família, fazendo assim com que as conversas e conspirações entre os governos possam ser observadas com cautela, e a jornada de O Querer (The Will), um caçador de recompensas de Grinalda, encarregado de deter o casal e capturar a criança, possa se desenvolver com bastante tensão.

As seis primeiras edições, compiladas no primeiro encadernado da série, tem a tarefa de apresentar os personagens e pelo menos uma parcela de seu universo – o que não é fácil, considerando a quantidade de elementos e temas que Brian K. Vaughan promete explorar (aqui eu me atenho apenas ao que é introduzido no primeiro encadernado), com debates sobre a natureza da guerra e da perversão humana, um tópico que fica evidente quando assistimos a missão de O Querer terminar com uma revelação chocante envolvendo escravidão sexual.

SAGA - Vol. 1: Magia, Espadas e Recém-Nascidos

O mundo de Saga é rico em detalhes, mas não são apenas as informações sobre magia e figuras importantes que chama a atenção, mas a maneira como o cotidiano é retratado com uma naturalidade incomum nos quadrinhos, revelando como o casal principal tem mais problema enfrentando os desafios da parentalidade e as discussões da relação ao invés das ameaças armadas que surgem em cada esquina (mesmo quando não há uma). Isso faz com que o público compreenda com mais facilidade os personagens, sem contar que todos possuem um certo charme e sabem divertir, mesmo tendo um papel mais antagônico.

O roteiro de Vaughan tem um ritmo excelente, sabendo mesclar com sucesso a comédia, o drama, o terror e a violência; e mesmo que os diálogos não sejam um grande destaque, contribuem para a construção dos personagens e resumem bem os pontos mais importantes da trama. Através deles, podemos compreender o comportamento mais pacifista de Marko, a atitude sarcástica de Alana, a fachada intimidadora de O Querer, ou o descontrole emocional do Príncipe Robô IV (aquele humanoide com uma TV na cabeça que mencionei anteriormente).

Mas se o roteiro de Vaughan mantém o interesse do leitor é por causa da arte de Fiona Staples. A canadense começou sua carreira com pequenos projetos e participações pontuais em alguns materiais, como a antologia de horror Contos do Dia das Bruxas, adaptação do filme de mesmo nome. Staples consegue um desenho expressivo e de enorme impacto visual, não importa o quão violenta ou inocente seja a proposta da página.

Tenho lido várias comparações da HQ com produções como Star Wars, Game of Thrones ou até a tragédia de Shakespeare, Romeu e Julieta, mas ainda que a intenção seja boa, nenhum desses exemplos realmente representa o que Saga faz, um debate relevante através de uma interpretação introspectiva das suas space opera favoritas, o que prova porque ela tem chamado tanta atenção.

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