Os Melhores Filmes SCI-FI da Década

Os Melhores Filmes SCI-FI da Década

20 de dezembro de 2019

21minutos de leitura

Toda lista de “melhores da década” é uma tremenda responsabilidade, mas a década de 2010 foi bastante generosa com a ficção científica, então talvez a maior tarefa aqui seja escolher apenas aqueles que melhor representam o gênero nesses últimos anos.

Para começar, vou indicar apenas produções cinematográficas da década de 2010,  e vale lembrar que isso não é um TOP 10, são indicações de obras que marcaram a ficção científica no cinema. Vamos lá!

A primeira coisa que as pessoas costumam ter em mente quando pensam em ficção científica é o futuro. Somos fascinados por interpretações diversas do que pode ser o nosso cotidiano em alguns anos, então eu separei algumas produções que falam sobre possibilidades e potencial humano, longas como os intrigantes Interestelar e Gravidade, que mostram como podemos nos comportar sob pressão, ou como a humanidade é capaz de alcançar novos horizontes, em Perdido em Marte. Mas se tem um filme que fez isso de um jeito único, esse é A Chegada.

Também podendo entrar na categoria de filmes de invasão alienígena, esse filme fala sobre a surpreendente chegada de visitantes de outro planeta. Mas não é tão simples assim porque tudo que querem é conversar, e a linguista Louise Banks (Amy Adams) precisa correr para descobrir como se comunicar com estes seres antes que seja tarde demais e o governo faça a única coisa que sabe fazer quando se sente intimidado.

Com um apelo visual de encher os olhos, mas não tão extravagante como os de Christopher Nolan em Interestelar, A Chegada conquista o destaque com uma abordagem muito mais humana e genuína. Com a direção mais sutil e delicada de Denis Villeneuve, que tem um excelente olho para construção de tensão e desenvolvimento da trama, revelando cada elemento com maestria, o filme consegue se elevar ainda mais com a atuação de Amy Adams, que entrega uma personagem realista e convincente o suficiente para te deixar apreensivo em cada uma de suas ações durante as interações com os visitantes. Ela traz o peso dramático necessário para que o filme se torne uma das melhores experiências que qualquer cinéfilo possa ter.

Na sequencia, outra coisa que sempre surge na cabeça de quem começa a pensar em ficção científica são os avanços tecnológicos ou, no caso, coisas como robôs, androides e ciborgues. Bem, essa não foi a melhor das décadas para o gênero, tivemos umas coisas bem ruins como Chappie ou O Agente do Futuro, mas felizmente sobram uma sequência surpreendentemente boa como o original, em Blade Runner 2049, ou o escolhido da vez: Ex_Machina.

Ainda que eu tenha adorado Blade Runner 2049, sem contar que o considero um enorme feito de Villeneuve (olha ele aí de novo), decidi escolher uma produção mais contida, sem necessidade de uma certa bagagem ou repertório. Por isso, por mais que eu adore todo o dilema e os questionamentos existenciais do agente K, nada me preparou para a surpresa que foi descobrir Ex_Machina.

Inventivo, pequeno em escala mas grande em enredo, também traz ótimos visuais, apesar do orçamento modesto. Alex Garland dirigiu um possível clássico do gênero sobre um jovem convidado para a casa de um gênio bilionário excêntrico e doido para apresentar sua mais recente criação: uma inteligência artificial avançada.

Além de todo o debate sobre a evolução humana e robótica, o filme conta com ótimos diálogos e um elenco de primeira, com nomes como Domhnall Gleeson e os iniciantes (pelo menos na época do lançamento) Oscar Isaac e Alicia Vikander, que não estavam tão em evidência em uma era pré Star Wars: O Despertar da Força e Tomb Raider: A Origem.

E se é para fazer pensar, o que o gênero faz como poucos por conta de todas as suas licenças poéticas, vamos então para o departamento da contemplação, com filmes que fazem você ficar por horas pensando no que acabou de ver, isso depois de já ter passado duas horas imerso em uma narrativa que muitas vezes é mais lenta e introspectiva, mas que diz bastante e é poderosa, seja em um simples elemento como a fotografia ou uma interpretação minuciosa.

Nessa década tivemos o maravilhoso The Whispering Star, de Sion Sono, que lembrava uma mistura de Kubrick com Tarkovski – um baita elogio -, o silencioso High Life e o complexo Ad Astra: Rumo às Estrelas, chegando em 2019, bem próximo do fim da década. Mesmo com exemplos tão bons quanto esses, tem um filme que me fez gastar tanto tempo teorizando e procurando por novas pistas em toda cena possível que merece o destaque: Sob a Pele.

Dirigido por Jonathan Glazer, esse é um daqueles filmes que divide opiniões. De um lado, um grupo não está nem um pouco feliz com o ritmo lento e a forma como tudo é subjetivo demais, sem explicações. Do outro lado, o grupo que simplesmente adora quando um filme faz tudo isso, toma seu tempo, se beneficia do silêncio e cria um mundo estranho, mas intrigante, que ganha mais força quando nós podemos interpretá-lo de maneira única. 

Na trama, Scarlett Johansson interpreta uma “figura feminina” que procura e convida homens desconhecidos para sua residência. O que eles não sabem é que ela os leva para outro lugar, um que se eu explicar demais pode estragar a surpresa, então assista sabendo que “coisas bizarras acontecem”. Sob a Pele é uma incrível obra com um visual distinto e criativo, um que você provavelmente já viu em muitas séries e filmes que viriam depois (só as cenas na escuridão eu vi de outro jeito em uns dois filmes e uma série famosa da Netflix que não vou mencionar mas você provavelmente já percebeu pela imagem abaixo).

Se você adora algo mais complexo e quer ficar totalmente imerso no que está assistindo, assim como os personagens do filme, essa é uma ótima escolha e um estímulo cerebral que pode ser prazeroso… ou uma dor de cabeça. Eu fico com a primeira opção.

Agora chega de ficar só no papo e vamos para a ação. Eu não coloquei filmes de super-heróis aqui, o que alguns consideram ficção científica, mas eu acho que merecem uma lista própria, então até adaptações dos quadrinhos como Dredd (que é ótimo) ficam fora da lista, mesmo sendo mais sci-fi do que os outros. Mesmo com exemplos como Ataque ao Prédio, Upgrade, No Limite do Amanhã e Círculo de Fogo, do queridíssimo Guilhermo Del Toro, nada é tão espetacular quanto testemunhar a loucura de Mad Max: Estrada da Fúria.

Planejado para ser uma sequência de perseguição contínua, George Miller, responsável pela trilogia Mad Max original, decidiu começar o projeto pelo storyboard e desenvolver o roteiro em cima dele. Este formato fez com que a trama fosse executada de forma dinâmica e o desenvolvimento de personagens fosse muito bem elaborado, dependendo de situações extremas ou raros momentos de descanso. 

Toda a loucura da série e os momentos surreais são mantidos, agora com um orçamento maior, o que deu liberdade suficiente para termos um bando de percussionistas e um guitarrista louco por pirotecnia no meio da estrada (e acredite, neste filme faz sentido, TOTAL SENTIDO). Esqueça longos e desnecessários diálogos explicando a trama e nos lembrando constantemente o que está acontecendo em cena (como um outro diretor já mencionado aqui adora fazer), porque é através dos detalhes que Mad Max: Estrada da Fúria consegue nos conquistar.

Todos adoram uma boa distopia, e por isso a década trouxe Chris Evans tentando descobrir a saída de um sistema opressor em Expresso do Amanhã; a comédia sobre um atendente de telemarketing envolvido em uma guerra entre classes no hilário Sorry to Bother You; um grupo de cientistas liderado por Natalie Portman para desvendar uma anomalia, mas que acaba virando um thriller onde qualquer um pode morrer a qualquer momento, em Aniquilação (dirigido por Alex Garland, o mesmo de Ex Machina, dá pra ver que ele sabe o que está fazendo); ou a angústia de ver Mary Elizabeth Winstead aguentar a tortura mental e a dúvida do que pode acontecer se ela tentar fugir disso em Rua Cloverfield, 10.

Todas produções que você deveria assistir, mas se eu preciso indicar uma imperdível, fico com a trilogia do remake de Planeta dos Macacos.

Se você me dissesse há uma década que eu estaria torcendo e adorando uma franquia onde um bando de primatas em cima de cavalos e armados até os dentes iriam protagonizar um dos filmes mais envolventes do gênero, eu te chamaria de louco. Mas esse remake dos filmes clássicos da década de 1970 consegue se destacar com roteiro bem estruturado, direção competente e excelentes efeitos especiais. Esse último é praticamente fenomenal, com uma atenção aos detalhes gigantesca e realismo como poucas produções tem.

O primeiro filme da trilogia é dirigido por Rupert Wyatt, servindo para estabelecer o protagonista Caesar (Andy Serkis), o primata inteligente, e sua missão para manter a espécie viva. Mas foi na continuação, com Planeta dos Macacos: O Confronto, que o diretor Matt Reeves traz um tom mais sério e dramático para os filmes, com embates memoráveis e cenas de ação intensas. O terceiro e último filme, até o momento, é Planeta dos Macacos: A Guerra, que não tem o mesmo fôlego do anterior, mas ainda assim traz muito do que fez essa trilogia uma das melhores do gênero.

A ficção científica tem outra característica única, onde entra a parte “científica” do gênero, com todos os seus conceitos mirabolantes que fazem parte do mundo dos personagens. É hora de lembrar longas que se apoiam fortemente na subversão do que conhecemos das leis da física, como fizeram as obras A Outra Terra, Coherence, Looper ou O Predestinado. E por mais que alguns tenham problema com Christopher Nolan e sua direção mais objetiva, nenhum filme deixou o público tão apreensivo no cinema quanto A Origem.

Cobb (Leonardo DiCaprio) é um agente que utiliza sua perícia de investigação para roubar segredos corporativos diretamente dos sonhos de grandes magnatas e empresários. Não é todo filme que consegue entreter o público com uma premissa dessas. Mais improvável é como Nolan desenvolve ótimas cenas de ação e perseguição se aproveitando do conceito.

Nenhum dos personagens vai muito além de seus traços de personalidade básicos, com exceção do protagonista, mas o que faz o filme funcionar é como a narrativa é construída e executada sem perder fôlego, tendo que abordar várias tramas paralelas, linhas temporais e camadas de sonho. Parece o pesadelo de qualquer montador na ilha de edição, mas o resultado é um dos filmes mais aclamados pela crítica e público, debatido até hoje por todos que ainda estão na dúvida sobre a estabilidade daquele maldito peão!

Não seria justo fazer uma lista como essa sem incluir o nosso cinema nacional, que tem crescido nos últimos anos, mesmo com todos os obstáculos. Bem no fim da década tivemos o misterioso Divino Amor, de Gabriel Mascaro; um ano antes, foi lançada a comédia A Repartição do Tempo.

O nosso cinema é rico em cultura e, por conta de sua situação política, carregado de comentário social e críticas ao poder, e se eu puder escolher um diretor que representa essa batalha muito bem é Adirley Queirós, um gênero do cinema de Brasília, responsável por um dos melhores filmes da década, a ficção científica Branco Sai, Preto Fica.

A inspiração principal para o filme vem de um incidente da década de 1980, quando policiais invadiram um ginásio referência para os cidadãos chamado Quarentão, onde os jovens costumavam se divertindo fazendo um baile de música negra. A violência dos policiais resultou em várias pessoas machucadas, além de acabar amputando a perna de um dos moradores e deixar outro paralítico.

As duas vítimas assumem a responsabilidade de reviver o trauma atuando no filme, que procura uma forma de reparação ao apresentar uma trama na qual os dois descobrem uma maneira agressiva de se vingar do estado. Queirós usa arquétipos da ficção científica para fortalecer sua crítica e entrega uma obra sem igual.

A ficção científica também pode ser um gênero dramático e cheio de emoção, capaz de deixar um pouco da sua tecnologia em segundo plano e focar nas relações humanas, falando sobre a mais forte delas: o amor. Eu pensei bastante em destacar o subestimado Safety Not Garanteed, mas deixei para o fim uma das produções mais sensíveis dos últimos anos, dirigida por Spike Jonze, o colorido e melancólico Ela.

Joaquin Phoenix interpreta Theodore, um homem solitário que ainda não conseguiu lidar com o fim de sua relação com Catherine (Rooney Mara). Ele não tem muito o que fazer além de trabalhar e jogar videogames, mas sua rotina muda quando se apaixona por Samantha, um sistema operacional que parece preencher todas as suas necessidades, incluindo lhe fazer companhia. É claro que é fácil acabar se apaixonando pelo seu próprio celular quando Samantha é dublada por Scarlett Johansson, mas não é fácil para Theodore lidar com o que está por vir.

Se o elenco, que também conta com Amy Adams, já não te convenceu  —  e deveria, porque Phoenix é um dos melhores atores dos últimos anos  — , Ela tem uma direção simples, mas belíssima, com um tom pastel que acalma e ao mesmo tempo transmite a insatisfação dos personagens.

É um futuro não tão distante, quase utópico em alguns elementos, e isso é destacado na construção de mundo, feita meticulosamente para parecer uma versão mais polida do nosso. A tecnologia é mais insinuante, sem extravagância, está nas estruturas, no design de produção, como o apartamento de Theodore. Tudo isso ao lado do bom enredo e música que elevam a obra como uma das melhores do gênero.

A ficção científica é a escolha perfeita para qualquer obra interessada em explorar o que somos e o que podemos ser. Não importa se estamos na vastidão do espaço ou lidando com a complexidade das nossas próprias emoções, esse é um gênero que está longe de perder fôlego, e essa década foi ótima para os fãs.

Quais foram os seus favoritos, e quais faltaram na lista? Deixe um comentário.

Até a próxima!

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