O Homem Ideal (Ich bin dein Mensch, 2021) | A complexa relação entre mulher e máquina

O Homem Ideal (Ich bin dein Mensch, 2021) | A complexa relação entre mulher e máquina

14 de dezembro de 2021

3minutos de leitura

Se fosse realizado por algum grande estúdio de Hollywood, talvez O Homem Ideal tivesse uma sensibilidade completamente diferente da que temos na adaptação de Maria Schrader, baseada no conto de Emma Braslavsky. Há uma mistura estranha de drama, ficção científica e comédia que funciona bem, muito disso por conta do excelente roteiro de Jan Schomburg e a própria Schrader, e as atuações de Maren Eggert e Dan Stevens. O espectador também pode encontrar similaridades na premissa com filmes como Ex Machina, de Alex Garland, ou o episódio Be Right Back, da segunda temporada de Black Mirror (quando ainda era criativa e a Netflix não forçava temporadas com mais episódios).

A proposta de O Homem Ideal é tão simples quanto a execução, e é por conta disso que o resultado soa tão genuíno. Alma (Maren Eggert), é uma arqueóloga que precisa de recursos para finalizar sua pesquisa, então aceita participar de um experimento no qual passa a conviver com o robô humanoide, Tom (Dan Stevens), programado com a principal função de fazer Alma feliz. Quase uma comédia romântica na superfície, o filme surpreende com a maneira que explora cada aspecto da vida de Alma, e os diversos debates levantados por conta da sua relação com Tom.

Felizmente, esse é um dos raros casos onde souberam aproveitar o talento de Dan Stevens, um ator que fez papéis memoráveis, como na série Legion, ou o filme O Hóspede, mas muitas vezes é escalado para personagens que ficariam ótimos se ele tivesse mais liberdade para explorá-los, e é aqui que Maria Schrader mostra sua força como diretora, construindo um enredo inteligente em volta de atuações mais complexas do que a premissa parece indicar.

Maren Eggert e Dan Stevens no filme O Homem Ideal

Tom começa como um companheiro perfeito para Alma, citando poetas como Rilke, respondendo toda pergunta com um elogio e dançando rumba com a precisão que apenas uma máquina como ele poderia ter, embora o charme de Dan Stevens dê uma dimensão maior para a personagem. Isso faz com que cenas como a tentativa do robô em comprar um café seja uma das mais engraçadas do filme, mas também há momentos mais dramáticos, como quanto precisa lidar com o comportamento avesso de Alma, que não está confortável lidando com uma mudança tão drástica do seu cotidiano, bem mais agitado, de apartamento bagunçado e uma rotina de trabalho pouco saudável, sem contar que, por baixo de toda a frustração de Alma, há um trauma que o roteiro lida com bastante cuidado, e fortalece o drama de um jeito orgânico, sem atrapalhar o humor e o romance que foram estabelecidos anteriormente.

Como mencionei, no começo as interações entre Tom e Alma parece algo saído de uma comédia romântica previsível (algumas são ótimas, mas convenhamos que outras são muito fracas), e realmente não há muitas surpresas na forma como a trama se desenrola, mas cada novo diálogo e cena revela uma enorme evolução na dinâmica entre eles, e por conta da habilidade do robô em evoluir através de experiências frustradas, assim como uma inteligência artificial, o filme passa a apresentar debates mais existenciais, questionando as limitações fundamentais de Tom, as implicações morais e éticas de sua relação com Alma e a dificuldade cada vez maior de definir a humanidade.

O Homem Ideal escapa da possibilidade de sofrer por conta de sua mistura de ficção científica, romance e comédia, e encontra uma maneira de consolidar personagens, enredo e temas com sucesso. Um dos destaques do ano, e muito disso por conta do excelente trabalho de direção de Maria Schrader e sua sensibilidade para explorar tantos elementos de uma forma simples, mas emocionante.

Dan Stevens no filme O Homem Ideal

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