MEN: Faces do Medo | Não é fácil escapar de relacionamentos abusivos
MEN: Faces do Medo | Não é fácil escapar de relacionamentos abusivos
10 de setembro de 2022
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Alex Garland é um diretor que tenho seguido o trabalho há muito tempo, desde que ele escrevia roteiros para os filmes de Danny Boyle, com os ótimos Extermínio (2002) e Sunshine – Alerta Solar (2007). Depois, também foi responsável por uma das adaptações mais fiéis dos quadrinhos, quando fez o texto para Dredd: O Juíz do Apocalipse (2012), e fez sua estréia como diretor em 2014, com Ex_Machina, um filme de pequena escala e orçamento modesto, mas com grandes atuações e roteiro de Garland, um escritor que sabe explorar os elementos de ficção científica dentro da narrativa como poucos – sem contar que o longa tem a cena do Oscar Isaac dançando ao som de Oliver Cheatham, o que automaticamente faz com que qualquer filme seja um pouco melhor.
Por ter trabalhado quase sempre com ficção científica, seguindo Ex_Machina com Aniquilação (2018) e a série DEVS (2020), alguns já esperavam que seu próximo filme fosse outra obra do gênero; o que até faz parte, mas de fato está mais voltado para o suspense. Men: Faces do Medo (típico subtítulo desnecessário, vai entender) está mais voltado para o thriller psicológico, um estudo de personagem com temas sobre masculinidade tóxica e violência, mas principalmente é uma narrativa sobre relacionamentos abusivos.
Harper (Jessie Buckley) sai do centro de Londres para se isolar em um chalé e lidar com o trauma de ter perdido seu marido. Procurando superar o luto, enfrenta emoções conflitantes por conta das memórias de uma relação violenta e tóxica, ao mesmo tempo que sente certa responsabilidade e culpa pelos eventos. Ao caminhar no campo e explorar o ambiente, Harper percebe que está sendo observada, logo surgem figuras misteriosas e o mesmo rosto passa a persegui-la. Em uma trama tensa, Men é o típico thriller psicológico da produtora A24, o que dependendo da pessoa pode ser algo bom, entretanto nem sempre é o caso.
Queridinha do público interessado em um cinema mais “cult”, a A24 é uma boa produtora, com alguns dos meus filmes favoritos, como Sob a Pele (2014) e Bom Comportamento (2017), e onde Garland trabalhou antes, mas ela também tem seus tropeços; não podemos esquecer Tusk: A Transformação. E há uma certa síndrome A24 que nem todos querem admitir, mas não dá pra negar que mais de uma vez por ano temos algum filme com premissa intrigante, bom elenco e um diretor competente, geralmente em um thriller psicológico (não vamos debater pós-horror aqui, tá proibido), mas que escondem um enredo repetitivo ou sem muito desenvolvimento em diversas camadas de metáforas e alegorias.
Antes de tudo, deve-se levar em consideração que, obviamente, essa é uma opinião pessoal, como toda crítica é; e cada obra de arte atinge as pessoas de maneiras diferentes, essa é a graça, e por isso debatê-las é tão enriquecedor e causa emoções fortes. O segundo comentário que preciso evidenciar aqui é o fato de que narrativas com temáticas pertinentes como as de Men são sempre bem-vindas, entretanto elas são somente uma parte de um todo, e não fazem do filme algo melhor por conta exclusiva disso – apenas números de dança fazem isso.
De início, Men se utiliza de uma ambiguidade na trama para criar uma experiência sensorial bem construída, com a tensão e paranoia dos eventos que perturbam a protagonista, e nos faz questionar a realidade de Harper e daquele mundo. Contudo, logo vem meu maior problema com o filme, a forma como ele tenta objetivar vários aspectos da história, explicando pontos que seriam melhor deixados em dúvida, tanto que logo quando a proposta do longa fica clara, e isso acontece mais cedo do que você imagina, ele perde grande parte do seu apelo, que antes se apresentava com um tom e atmosfera sustentada por essa incerteza na trama.
Esse é o típico filme com um debate promissor e vários temas que podem render um estudo de personagem complexo e significativo, explorando violência doméstica, perpetuação da masculinidade tóxica, abuso psicológico e outros assuntos que em um roteiro melhor trabalhado seriam examinados com cuidado e seriedade. Infelizmente, Garland parece estar interessado em falar de tudo isso, mas não consegue se aprofundar em nenhum desses temas com propriedade por conta de sua responsabilidade maior com viradas na trama, principalmente todo o terceiro ato, que se debruça em horror corporal acreditando que sua crítica é suficiente para sustentar um enredo pouco desenvolvido, tanto que o filme tem ao seu dispor dois atores excelentes, Jessie Buckley e Rory Kinnear, mas nenhum arco dramático ou “evolução” parece existir nas personagens, tendo o talento dos atores como a única coisa que sustenta a maior parte da obra.
Men tem seu auge na ambientação, trabalho de som, direção de arte, atmosfera tensa com segmentos oníricos e atuações de Jessie Buckley e Rory Kinnear. Esses elementos fazem com que o longa tenha um começo forte, mas logo muito disso se perde por conta de um enredo sem foco, o que é uma pena vindo de alguém como Alex Garland. Ainda assim, continuo ansioso por qualquer um de seus próximos projetos.
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