Distribuído pela Netflix, I Am Mother é mais uma adição para o seu catálogo de ficção científica. Depois de produções decepcionantes como Extinção, The Titan ou Onde Está Segunda?, ficou difícil confiar nos lançamentos FC jogados no site (e uso “jogados” porque muitas vezes um estúdio simplesmente não confia no filme o suficiente para um lançamento em salas de cinema, então joga direto para o streaming), mas felizmente I Am Mother não cai nesta armadilha e acaba sendo um filme mais do que competente.
Uma jovem é criada por um droide chamado Mother (“Mãe”), que tem a missão de repopular o planeta depois da humanidade ter sido extinta. A robô e sua “filha” vivem bem em uma instalação do governo criada para proteger as futuras gerações, mas a relação delas pode mudar com a chegada de uma mulher misteriosa.
O primeiro aspecto notável da produção é o elenco principal que conta com apenas duas protagonistas sem nome, interpretadas por Hilary Swank e Clara Ruggard (a mulher e a filha, respectivamente), e a droide com a voz de Rose Byrne. Depender de poucos atores é arriscado, mas o filme apenas ganha por conta da direção focada de Grant Sputore e o talento das atrizes.
Swank pode não ser uma das minhas atrizes favoritas, mesmo sendo premiada pela Academia, mas sua personagem tem um comportamento exasperado que precisa de uma boa atriz para evitar exageros. Rose Byrne empresta sua voz para Mother (Luke Hawker é o ator dentro da máquina) e também fez um bom trabalho expressando atitudes “bondosas” de maneira ameaçadora. A última, mas não menos importante, é Clara Ruggard, que mesmo com um currículo menor consegue se destacar servindo como a protagonista. É dela o arco principal do filme e o interpreta muito bem.
Por ser um filme de menor escala e orçamento relativamente modesto, considerando o que costumam valer outros filmes de estúdios e diretores mais conhecidos, I Am Mother tem a vantagem de poder criar cada um dos seus elementos com mais cautela e sem muita intromissão. Esse é o primeiro longa de Grant Sputore, mas ele não se desespera e traz uma direção mais interessada em construir ambientes sem pressa. Há espaço para algumas reviravoltas, o que muitos diretores parecem criar primeiro e montar o filme inteiro em cima delas, mas essa é uma obra onde o enredo e os personagens vem em primeiro, e mesmo que traga algumas características “batidas” de narrativas sci-fi, uma execução limpa e objetiva sempre funciona. Ao lado da direção, a equipe de design merece elogios pela forma como apresentou o mundo do filme e montou o visual dos droides.
I Am Mother explora a natureza humana através de um mundo que a protagonista não consegue ver. Assistimos a jovem em uma instalação grande o suficiente para abrigar várias crianças no futuro, mas a sensação de claustrofobia e o desespero em saber como as pessoas foram eliminadas por sua própria ignorância faz com que um debate seja levantado sobre todos os embriões mantidos em segurança no laboratório. Nosso desenvolvimento deve ser manipulado para que o caminho da humanidade não termine como antes ou podemos confiar em nossos instintos?
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