Brit
Marling e Zal Batmanglij são uma dupla fascinada por narrativas com
elementos de ficção científica. Ela atuou e co-escreveu todos os
projetos de Zal para o cinema, além de protagonizar a série The OA. O primeiro projeto deles foi o curta The Recordist,
de 2007, sobre uma personagem paranoica que acredita estar diante de
uma forma de vida alienígena quando encontra Charlie, interpretada por
Marling. Essa premissa parece ser bastante confortável para a dupla, já
que continuaram abordando temas parecidos sobre conspiração, realidades
absurdas e delírio em seu primeiro longa metragem,A Seita Misteriosa (Sound of My Voice, no original), em 2011.
Peter Aitken e Lorna Michaelson são um casal preparando um documentário sobre um culto dedicado a adorar Maggie, uma jovem misteriosa que alega ter vindo do futuro. Com cada nova sessão, eles encontram jeitos diferentes de tentar capturar algum tipo de fraude com uma câmera escondida, mas não contam com a sequência de eventos que os fará questionar tudo em acreditam.
Para combinar com a proposta dos protagonistas, algumas partes de A Seita Misteriosa são
filmadas em um formato documental, com imagens de arquivo e um ótimo
trabalho de montagem, com inserções repentinas contribuindo para a
construção do drama entre os personagens, exibindo informações sobre o
passado de cada um.
Christopher
Denham e Nicole Vicius interpretam Peter e Lorna, respectivamente. Eles
são competentes e mantém o interesse do público, mas é Marling,
interpretando Maggie, que faz do filme algo diferente. A atriz tem o
costume de estar no papel de figuras mais passivas e menos
intimidadoras, mas aqui ela alterna entre um Messias procurando abraçar
todos com um sorriso acolhedor e um olhar ameaçador que te faz entregar
qualquer segredo. É difícil saber onde o filme está indo por conta
disso, o que é um tremendo feito da atriz.
Essa é uma produção de orçamento modesto, o que eu costumo valorizar mais que qualquer blockbuster quando tem um bom resultado mesmo com todas as possíveis limitações. Execução é tudo e Zal Batmanglij explora ângulos simples mas eficazes durante sua apresentação do ambiente carregado de tensão na sala onde o culto é realizado. Sua noção de ritmo também contribui positivamente para a obra, que poderia ser bem mais lenta (e faria total sentido), mas acaba ficando tão dinâmica e envolvente que o desfecho parece chegar de maneira quase abrupta — e vale mencionar aqui que considero a conclusão a melhor opção possível para uma história como essa.
A Seita Misteriosa é simples e direto ao ponto, podendo extrapolar um pouco e arriscar entrar em território mais desnecessariamente absurdo, algo que eu adoro mas não faz sentido na narrativa mais realista que Brit e Zal constroem. Com pequenas ressalvas sobre o elenco coadjuvante ser pouco aproveitado ou a estrutura do filme em “capítulos” (a proposta original era de que a história fosse uma série) com sequências curtas demais, o que talvez distraia alguns. Mas ainda assim, há mais pontos positivos que farão você começar a questionar suas próprias crenças. Um bom roteiro, elenco e diretor é tudo que um filme precisa.
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