A Grandiosidade de “Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros” (1993)
A Grandiosidade de “Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros” (1993)
13 de maio de 2019
6minutos de leitura
“A vida encontra um meio”.
Dirigido por um Spielberg já consolidado por conta de longas como E.T., Tubarão e Indiana Jones, Jurassic Park surpreende qualquer um que estivesse considerando uma perda de fôlego do diretor na época. Na verdade, é mais um atestado de sua enorme criatividade e competência por trás das câmeras, o que fica ainda mais evidente quando lembramos que no mesmo ano tivemos A Lista de Schindler, o primeiro passo de Spielberg em trabalhos mais maduros, mas não menos premiados e aclamados pelo público e crítica. Pessoalmente, considero Jurassic Park seu maior feito, e em uma filmografia tão diversa e adorada quanto a dele, isso é dizer bastante.
Baseado na obra literária homônima de Michael Chichton, o filme é um daqueles raros casos onde a adaptação é considerada melhor que o original. Mas também, com tudo que o longa tem, fica fácil pensar assim. A história tem uma premissa bem simples e uma narrativa objetiva, mas cheia de elementos únicos e tão bem aproveitados, que retornar ao filme é sempre uma experiência satisfatória. E eu preciso dizer que a maior parte se mantém muito bem, algumas bem até demais.
Seguimos um grupo de pesquisadores e cientistas em uma visita guiada e financiada por um magnata com a promessa de ter conseguido realizar um dos maiores feitos da humanidade: trazer de volta a vida animal dominante do período jurássico. A dupla de paleontólogos, Grant e Ellie, está obviamente ansiosa para ver tudo com seus próprios olhos. Com eles, está Malcolm, um matemático fascinado pela teoria do caos, e o mais preocupado com os riscos que essa descoberta pode trazer.
E aí já encontramos o primeiro grande triunfo do filme. O que fez Jurassic Park tão bom, e talvez o que faltou nas continuações (que nunca chegaram perto de se igualar ao original), são as interações entre os personagens. Spielberg é conhecido por criar figuras e construí-las com carisma e charme suficiente para sustentar a maior porção do filme apenas com bons diálogos. Essas conversas entre os cientistas antes mesmo de chegarem ao parque, já são envolventes e acredito ser a maior força desse filme, ao lado de toda a aventura e aquela sensação de maravilhamento — nossa e dos personagens — que traz um coração e alma impossível de replicar.
O elenco é impecável. Richard Attenborough é o magnata com sorriso acolhedor e entusiasmo de sobra, mesmo quando não merece nossa admiração, fica difícil ficar bravo com ele. A mesma coisa vale para Jeff Goldblum, que está interpretando ele mesmo (nada de novo aí) no papel de Malcolm, mas com uma dose extra de personalidade e confiança. Ele serve como a personificação de tudo que é legal nesse mundo, mesmo quando fica impossibilitado de entrar em ação por um bom tempo.
A adição de duas crianças, Tim e Lex, interpretados por Joseph Mazzello e Ariana Richards, respectivamente, não corre o risco de cair na armadilha de tantos filmes que vieram depois. Geralmente, os personagens infantis servem como um obstáculo para a jornada de alguém ou só um rosto fofo para alívio cômico, mas aqui eles tem um propósito narrativo ligado diretamente ao arco dramático de Grant e sua incerteza em criar uma família. Ademais, a dupla é divertida, inteligente e ajuda na missão.
Em uma das cenas principais, Grant (Sam Neill) começa a chorar e fica sem reação ao confirmar que os dinossauros se comportam do jeito que ele sempre imaginou, enquanto isso, Ellie (Laura Dern) o consola e vê um momento de vulnerabilidade no companheiro, que estava sendo o mais cético até o momento. A decisão de manter a câmera no rosto dos atores e em suas reações por mais tempo do que nos próprios dinossauros é uma das mais inteligentes de Spielberg. E isso não é para fugir de algum tipo de inconsistência nos efeitos especiais, porque esses continuam incríveis até hoje.
Não temos tantos dinossauros em tela quanto nos filmes seguintes da franquia, o que contribui para meu argumento anterior sobre eles não serem o motivo desse filme ser tão bom, ou pelo menos não serem o motivo principal. Mas já que estamos falando deles, aí vai mais uma vitória do filme: os efeitos práticos.
O uso de animatrônicos para representar as criaturas acaba sendo a melhor saída. A técnica envelhece bem e não sofre tanto quanto o CGI, que torna-se obsoleto rapidamente se não for bem utilizado. A textura fica estranha sem um tratamento meticuloso do visual e um estudo da fisiologia animal do que está sendo representado com os “bonecos”. Felizmente, Jurassic Park não sofre disso. O triceratope doente encontrado pelos personagens é expressivo e realista, e quando o Dr. Grant o abraça, o mecanismo reproduz a respiração fraca do animal — uma particularidade que faz a diferença no resultado final.
Não que as partes em CGI sejam ruins. Algumas sequencias envolvendo modelagem digital para representar as imagens da tela de computador dos técnicos do parque talvez necessitem de uma atualização, mas outras, como o vídeo ensinando o funcionamento do DNA através de uma animação, tem um charme próprio. Claro que o destaque vai para as interações entre os dinossauros, principalmente em uma cena com a dupla de velociraptors e o T-Rex, que rende a minha composição favorita do filme e uma das melhores que já vi no cinema (não coloquei em destaque na matéria à toa).
Horror é um componente presente nas aventuras de Spielberg. Para ele, não importa se o tom do filme é leve e divertido, um susto aqui e ali é bem-vindo. Os dinossauros impressionam e encantam quem vê, você quer chegar perto e descobrir a sensação de encostar em um, mas são aterrorizantes ao mesmo tempo, feitos para criar a tensão constante depois que as coisas começam a dar errado no parque e as criaturas estão livres para devorar e pisotear quem quiserem.
O terceiro enorme diferencial (“triunfo”, para ser consistente) é a música de John Williams. O compositor é um dos mais aclamados da indústria cinematográfica e, assim como Spielberg, confirma novamente seu nome como um dos maiores que já existiu. Sua orquestra, conhecida pela harmonia que traz a magnitude capaz de celebrar o espetáculo visual do parque e suas criaturas.
Poucos filmes carregam a grandiosidade encontrada em Jurassic Park. O enredo é simples, mas você encontra algo novo em cada canto, os diálogos são memoráveis, a ação é mais ainda, o elenco é único, a música é perfeita e como já disseram uma vez: “Se você não viu Jurassic Park, você não viu coisa alguma”. *
*Jurassic Park é mencionado durante uma conversa no filme Swiss Army Man (2016).
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