Mrs. Davis | Jesus vs Inteligência Artificial, Ciência vs Religião
Continue LendoDaniel Milano
Divertida, irreverente e inteligente, Mrs. Davis é uma pérola
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Estamos apenas no terceiro episódio e já posso afirmar que, se Patrulha do Destino fosse cancelada neste exato momento, a série seria considerada uma das melhores coisas já produzidas para a TV envolvendo um material da editora DC. Preacher é claramente um deleite de sangue e humor negro, mas a equipe de desajustados da Patrulha conseguiu em apenas poucas semanas entregar personagens bem desenvolvidos, um tratamento visual de qualidade e um enredo competente e criativo.
Em Puppet Patrol a equipe fuça os arquivos do Chefe e descobre informações que os levam para o Paraguai. Na verdade, eles não são levados, é mais questão de tentarem chegar lá por uma boa parte do episódio. Ciborgue não consegue contribuição financeira de seu pai e como ainda não é um membro da Liga da Justiça, não pode pegar um jato emprestado. A solução é carregar todos em um ônibus surrado (para ser generoso com os adjetivos). Não sendo apenas uma decisão criativa da série para evitar gastos no orçamento, obviamente (e há uma cena onde fica ainda mais claro como um simples corte — bem feito — na edição ajudou bastante nessa economia), essa acabou sendo uma daquelas ideias que abrem espaço para várias situações cômicas, como cada integrante do grupo tentando (e falhando) botar a mão no volante ou Crazy Jane tentando se matar por conta do tédio, literalmente. Há uma pausa em um hotel na beira da estrada que também serve para conhecermos mais da rotina de Rita e exibir o humor inconveniente de Cliff, que joga nomes como Batman e Aquaman no ar com a intenção de irritar Ciborgue.
Com o primeiro episódio dando um foco maior na história de Cliff e a relação com sua filha, e o seguinte explorando as origens de Ciborgue e a superfície do que aconteceu com Jane, é chegada a hora de falarmos um pouco mais sobre Larrye os relacionamentos que mantinha, com sua esposa e o colega de trabalho, que acaba se tornando um amante. É mais uma das jornadas trágicas da série, de um homem tomado pelo arrependimento que decide se distanciar de tudo e todos. Mais um bom trabalho do roteiro em apresentar uma certa despedida através do ponto de vista das figuras que mais decepcionou, de um lado um adeus seco e triste de uma esposa traída; do outro uma partida sutil, mas cheia de sentimento, de um homem que perdeu uma das conexões mais fortes que tinha. Matt Bomer atua nas sequencias de flashback e em um momento importante do clímax do episódio, onde tem um embate com sua entidade mal-vinda. Como foi com Brendan Fraser anteriormente, esse é outro caso de um membro do elenco se dedicando ao papel e abraçando o absurdo da série.
Por falar em absurdo, esse episódio tem de sobra, e olha que nem tivemos a narração do Mr. Nobody (fez falta, mas não afetou negativamente a experiência em momento algum). À caminho de Paraguai, o grupo é separado novamente. Rita e Ciborgue ficam em um hotel (contra suas vontades), onde debatem a importância da ex-atriz para a equipe. Esse é o núcleo mais “normal” do episódio, e serve como um alívio cômico reverso, como se colocasse um pé no chão depois de sair da realidade. Por isso também é uma parte que sofre um pouco por não ser tão intrigante quanto a trama paralela, envolvendo Larry, Cliff e Jane chegando (de forma propositalmente conveniente) no seu destino, o ponto turístico provavelmente menos movimentado do país: Fuchtopia (sim, se escreve com h. Tire a cabeça do esgoto). Fantoches que revelam informações sobre o passado do Chefe e Von Fuchs, camponeses prontos para a batalha e a introdução de outra figura bizarra dos quadrinhos são algumas das coisas que me deixam cada vez mais animado para onde esta série pode ir. E pode ir para qualquer lugar.
Puppet Patrol é mais um ótimo episódio de uma série que vem se provando como uma das mais criativas e irreverentes dos últimos anos, e isso com apenas três episódios, mas também com uma trama que está se desenvolvendo muito bem e um trabalho de direção cada vez mais peculiar, com um filtro quase sépia que dá aquela sensação de estarmos vendo uma fotografia velha de algo abandonado há um tempo. É assim que os personagens se sentem e não deixamos de torcer por uma possível luz no fim do túnel para cada um deles.
Ficha Técnica:
Puppet Patrol, S01E03
Direção de Rachel Talalay
Roteiro de Tamara Becher e Tom Farrell
Atuações de Diane Guerrero, April Bowlby, Alan Tudyk, Matt Bomer, Brendan Fraser
Daniel Milano
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