ONISCIENTE (1ª Temporada) | De olho em mais uma FC nacional bem feita

ONISCIENTE (1ª Temporada) | De olho em mais uma FC nacional bem feita

3 de fevereiro de 2020

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Me sinto na obrigação de começar este texto dizendo que as comparações constantes de Onisciente, a nova série de ficção científica nacional distribuída pela Netflix, com Black Mirror são, no mínimo, uma tremenda falta de referência, sem contar que afirmações como essa acabam sendo não apenas preguiçosas e repetitivas, como parecem diminuir a importância do material, ainda mais um criativo e bem desenvolvido como a produção brasileira de Pedro Aguilera.

Na trama, Nina Peixoto (Carla Salle) trabalha para uma enorme empresa de vigilância, e as coisas parecem ir bem até o dia em que seu pai é assassinado misteriosamente e o sistema que acreditou ser infalível não é capaz de revelar um culpado. Assim, Nina procura uma maneira de descobrir o responsável enquanto tenta burlar o sistema e as câmeras em sua volta. 

Aguilera, responsável por roteiros de outro sucesso FC da Netflix, a distopia 3%, continua explorando o gênero, porém com uma abordagem diferente, trazendo uma premissa que, se formos realmente utilizar comparações (dessa vez, pertinentes), investe em elementos comuns nas obras literárias clássicas de Philip K Dick, Isaac Asimov e Aldous Huxley, principalmente o conto Minority Report e o romance Admirável Mundo Novo.

ONISCIENTE

Felizmente, Onisciente não se limita às referências e cria um universo próprio, com personagens e regras bem estabelecidas. O roteiro arrisca cair em territórios perigosos, com pequenas conveniências envolvendo a proposta principal de abordar uma cidade monitorada constantemente por drones tão pequenos que a maioria dos cidadãos sequer percebe.

Esse é um pequeno risco tomado por um enredo bem executado, atento ao cotidiano de seus personagens, o que fortalece suas motivações, e a construção de um mundo que, ao primeiro olhar parece simples, mas logo revela sua conjuntura política, hierarquias e estruturas sociais, tudo de maneira simples e direta, e é nessa objetividade que a narrativa ganha força, sabendo exatamente o que deve aproveitar e o que deve ser deixado de lado. 

Uma preocupação com produções nacionais que tentam explorar narrativas de gênero é a chance de soarem artificiais, com diálogos e ações pouco naturais. Por Onisciente ser uma ficção científica com uma linguagem visual mais norte-americana, há sequências onde algumas interações acabam soando mecânicas, mas isso é relevado quando consideramos que os personagens estão sendo vigiados o tempo inteiro, então devem ter cautela com o que dizem e fazem.

ONISCIENTE

Mesmo com as limitações, o elenco faz um bom trabalho, principalmente Carla Salle, como a protagonista Nina, que vai de uma jovem tímida e generosa para uma pessoa mais calculista e intimidadora. Além dela, temos nomes como Sandra Corveloni e a ótima Luana Tanaka (do elenco da série 3%), essa última roubando algumas cenas com uma subtrama que promete ser mais importante em uma futura temporada. 

Onisciente é mais um passo para o avanço de produções de gênero no mercado nacional, um que ainda pode ser bastante influenciado por material norte-americano, mas carrega uma voz cada vez mais forte. 

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