Mrs. Davis | Jesus vs Inteligência Artificial, Ciência vs Religião
Continue LendoDaniel Milano
Divertida, irreverente e inteligente, Mrs. Davis é uma pérola
14minutos de leitura
2019 foi um bom ano para a ficção científica. Ainda que uma série ou outra possa decepcionar ou ser simplesmente ruim, no geral, foi um ano com o retorno de nomes fortes e a estréia de alguns que prometem evoluir bastante, sem contar as minisséries que, até o momento (nunca se sabe quando um estúdio pode encomendar uma segunda temporada), entregaram uma história impressionante.
Antes de começar a lista, vale mencionar que as séries destacadas, boas ou não, correspondem ao gosto de quem escreve essa matéria. Também serão válidas apenas as temporadas lançadas esse ano (se ela não tem data para sair no Brasil, considero o lançamento no país original), e aquelas que eu assisti em sua totalidade, então vou deixar logo algumas menções honrosas de séries que comecei, mas ainda não terminei, como a terceira temporada de Stranger Things e The Handmaid’s Tale, assim como a estréia das séries Osmosis e Raising Dion. As duas começaram muito bem, mas por motivos de agenda e a confusão de tanto material para ler / assistir / resenhar, acabei deixando elas para depois.
Outros exemplos, como a aclamada Dark, não entram na lista pelo simples fato de eu ter demorado demais para começar a assistir, então ainda estou no começo (mas o pouco que vi já achei muito bom). Independente disso, a lista está longe de ser pequena, e mesmo com alguns exemplos de “séries ruins”, felizmente a maioria teve um resultado positivo.
A lista segue uma ordem de pior para melhor série, então vamos começar logo indo das decepções do ano, chegando aos poucos nas obras que melhor representaram o gênero ou foram simplesmente excelentes.
The I-Land e Another Life (Estréias)
As duas piores do ano dividem a posição por terem problemas similares. Enredos mal executados, personagens sem desenvolvimento e dramas forçados ao ponto de beirar o ridículo, tanto que cheguei a fazer uma matéria apenas para destacar o que deu errado nas duas séries, e na maneira como a Netflix vem abordando algumas produções de ficção científica.
É uma pena ver uma atriz boa como Katee Sackhoff interagindo com personagens tão ruins (destaque para a palavra “personagens”, isso porque a culpa é exclusivamente do roteiro, já que alguns nomes do elenco já estiveram bem em outras produções) em Another Life; e The I-Land não foge da bronca por ter basicamente copiado a estrutura narrativa e vários elementos de Lost, incluindo a premissa. Duas grandes decepções, mas agora é hora de começar a tirar o gosto ruim da boca e partir para algo um pouco melhor.
Love, Death & Robots (Estréia)
A proposta de Love, Death & Robots é bem criativa. Uma série em formato de antologia contendo dezoito curtas com temática sci-fi, por diferentes artistas. Criada por Tim Miller, de Deadpool, e David Fincher, de Clube da Luta, você pode ir alternando entre os curtas sem problema, já que eles não possuem qualquer ligação narrativa. É claro que em uma coletânea de dezoito histórias, algumas podem ser menos interessantes, outras podem acabar se tornando repetitivas, mas as que funcionam, funcionam bem.
Você pode saber mais sobre cada um dos curtas em um vídeo feito para o canal do Primeiro Contato.
Black Mirror (5ª Temporada)
Para sua quinta temporada, Black Mirror finalmente retorna ao formato original de três episódios, o que indica roteiros escritos com mais calma e atenção aos detalhes, principalmente considerando que todos são responsabilidade de Charlie Brooker, o criador da série.
A série parece estar um pouco perdida em alguns momentos, e entrega um de seus episódios mais fracos, Rachel, Jack and Ashley Too. Mas há casos onde Black Mirror continua surpreendendo o público com uma premissa original, como em Striking Vipers; ou quando não é muito original, compensa com boas atuações e tensão, o que acontece em Smithereens.
Além da Imaginação (Estréia)
Um clássico está de volta. Jordan Peele, diretor de Corra e Us, assume o posto de anfitrião da série, e mesmo que Rod Serling, o apresentador original, seja insuperável, Peele faz um bom trabalho. Em uma temporada com dez episódios, Além da Imaginação pode ter um retorno um pouco turbulento, com pequenos tropeços ao longo do caminho, mas no geral consegue se salvar trazendo narrativas relevantes e com premissas instigantes.
Ainda que em seu último episódio a série tenha uma reviravolta um pouco desnecessária, ela deixa um indício de que a segunda temporada pode ser um pouco mais livre para explorar as bizarrices que a série clássica adorava, o que esse remake parecia ter um pouco de vergonha. Você pode assistir os vídeos sobre cada um dos episódios no nosso canal.
His Dark Materials (Estréia)
Com um elenco impressionante, incluindo nomes como James McAvoy e Lin Manuel Miranda, His Dark Materials é a promessa de uma adaptação mais fiel e competente da série de livros de mesmo nome, que recebeu uma versão esquecível para os cinemas, em 2002, levando o título do primeiro livro, A Bússola de Ouro.
A primeira temporada tem apenas oito episódios, e é uma pena que demore para realmente engatar na trama, que começa apresentando muitas informações, mas explorando-as bem pouco. Felizmente, quando as coisas entram no eixo, His Dark Materials pode brilhar além de suas ótimas atuações e efeitos especiais de qualidade, provavelmente os melhores do ano.
Star Trek: Discovery (2ª Temporada)
Não é uma lista de ficção científica sem um pouco de Star Trek. A segunda temporada de Discovery se arrisca brincando com o passado e estabelecendo um novo futuro, mas ainda tem seus pequenos problemas, como subtramas mal valorizadas ou diálogos ruins. Ainda assim, Discovery continua uma boa escolha para matar a saudade da franquia, com alguns episódios que seguem a essência da série, como New Eden, dirigida pelo veterano Jonathan Frakes.
Depois de uma primeira temporada inconsistente, havia uma preocupação para o que viria neste segundo ano, principalmente depois do season finale da temporada anterior introduzir a clássica NCC-1701, capitaneada no momento por Christopher Pike (Anson Mount). E por falar em Anson Mount, o rapaz foi tão bem aceito pelos fãs que a ideia de um spin off surgiu antes mesmo da temporada acabar.
Undone (Estréia)
Após terem escrito o sucesso Bojack Horseman, da Netflix, os roteiristas Kate Purdy e Raphael Bob-Waksberg (também showrunner da série), decidiram desenvolver uma nova produção, com um formato diferente e para outro serviço de streaming, dessa vez a Amazon Prime Video. A minissérie Undone é um drama peculiar em sua apresentação, envolvido em elementos de ficção científica.
Trazendo a atriz Rosa Salazar como protagonista, e utilizando rotoscopia, uma técnica onde as filmagens com atores são aproveitadas para que novos quadros sejam desenhados “por cima delas”, Undone foi uma das maiores surpresas do ano, e um grande acerto da Prime Video, apresentando uma experiência arriscada, capaz de distrair e distanciar alguns não acostumados ou satisfeitos com a técnica (o que não é o meu caso), mas que ainda funciona muito bem como a jornada de uma jovem descobrindo sua própria identidade enquanto encara o desafio da aceitação. Leia nossa crítica completa da temporada.
Rick and Morty (4ª Temporada)
Colocar Rick and Morty nessa lista é trapacear um pouco, já que apenas metade da temporada foi lançada esse ano, enquanto a outra chega apenas em 2020. Mas tecnicamente, os cinco episódios da série liberados esse ano são o que tivemos de Rick and Morty, e qualquer coisa dessa animação já vale a pena ser mencionada.
Depois de uma terceira temporada com recepções mistas (por conta de problemas no estúdio, atrasos e mudanças na sala de roteiristas, e por aí vai), Rick and Morty volta mais forte mostrando que consegue equilibrar narrativas originais e entregar um pouco do que os fãs querem, mesmo que na maioria dos casos esteja fazendo piada deles (apenas aqueles que merecem a zombaria, como quem sobe no balcão do McDonalds pedindo um sachê de molho que a série menciona em um episódio).
Com episódios satirizando narrativas diversas, e voltando bem mais politizada, a série retoma um pouco de fôlego. Você pode ler as críticas de cada um dos episódios no site.
The Expanse (4ª Temporada)
Depois de ser cancelada injusta e prematuramente pelo canal SyFy quando acabou de entregar uma ótima terceira temporada, The Expanse conseguiu um novo lar no serviço de streaming da Amazon, o Prime Video. O mais impressionante não é apenas o fato de ter sido renovada para uma quarta temporada, mas por continuar com uma base de fãs forte e críticas positivas sendo uma série de ficção científica mais “pesada” no meio de tantas produções de maior nome.
Com essa mudança, alguns poderiam ficar preocupados com o rumo tomado pela série, ainda mais com a redução de episódios por temporada, indo de treze para dez (como foi em seu primeiro ano), ou ter que mexer nos cenários e agendas de elenco. Felizmente, a maioria dessas preocupações foram desnecessárias e tivemos um ótimo retorno para uma das melhores séries da atualidade.
Legion (3ª Temporada)
Em um mundo cheio de adaptações de quadrinhos no cinema e na TV, tivemos dois destaques positivos, e o primeiro deles é Legion, que teve sua terceira e última temporada esse ano. Enfrentando a baixa audiência e orçamento modesto, o criador Noah Hawley conseguiu descobrir maneiras de criar uma despedida justa para um personagem complexo como David, o protagonista interpretado por Dan Stevens.
Ambientado no universo dos X-Men, da Marvel Comics, Legion conta a história de David Haller, o filho do líder dos mutantes, Charles Xavier, lidando com seus demônios interiores, literalmente. Com um enredo bizarro, excelente direção de arte e um bom elenco, Legion pode ter passado despercebida por alguns, mas é uma das melhores séries do ano.
Watchmen (Estréia)
Uma das maiores surpresas do ano é Watchmen. E eu não digo isso por terem feito mais um derivado do quadrinho original de Alan Moore e Dave Gibbons, também não é por ser no formato de série para HBO, o que realmente surpreendeu o público é como a adaptação funcionou bem.
Aproveitando os temas e os debates políticos do quadrinho, o criador da série, Damon Lindelof, seguiu o caminho da renúncia por uma versão completamente submissa ao material original, mas ainda assim respeitando a linguagem de Moore, sem idealizar seus personagens, mostrando como realmente poderia ser um cotidiano entre mascarados.
Um elenco perfeito, enredo de primeira e a maravilhosa trilha sonora da dupla Trent Reznor e Atticus Ross fizeram de Watchmen o melhor lançamento da HBO esse ano.
Leia a resenha de todos os episódios.
The OA (2ª Temporada)
Criada pela genial Brit Marling, The OA se posiciona como uma das produções mais originais atualmente, e eu ouso arriscar que é o mais próximo que teremos de algo no nível de Twin Peaks (que saudades de você!). Essa segunda parte (como chamam as temporadas) mescla alguns gêneros sem perder seu ritmo. A ficção científica ainda é uma base para a série, mas o misticismo, já presente antes, agora tem um papel ainda maior na jornada.
O que transformou The OA em um evento para mim é a forma como alterna organicamente entre gêneros, traz personagens envolventes e abraça cada pedaço da trama, até aqueles que podem soar vergonhosos à princípio, mas que logo se revelam um momento executado com tanta honestidade e vontade de inovar que te faz admirar a produção com mais força.
Meticulosa em cada elemento, The OA é facilmente a melhor série de ficção científica do ano.
Leia a crítica completa.
O que achou da lista?
Se discorda, concorda ou acha que faltou algo, é só comentar abaixo.
Felizmente, esse foi um bom ano para o gênero na TV e nos serviços de streaming, e pelo que vi das estréias de 2020, o próximo ano parece ainda melhor.
Até a próxima. Vida Longa e Próspera 🖖
Daniel Milano
Divertida, irreverente e inteligente, Mrs. Davis é uma pérola
Roberto Honorato
Imaginando o futuro de ontem na série retrofuturista da Apple